olá pessoal,
tem alguém que sente que a pandemia acabou de verdade? que a qualidade de vida é melhor agora do que antes? para mim, os desafios parecem constantes. em fevereiro meu marido e minha filha pegaram covid (segunda vez), a fazenda decidiu que eu devo r$4296,74 do qual 2690,10 é minha divida por não pagar (ou usar) mei por 4 anos e 1606,67 é resultado de multas/juros/honorários (!!!). além disso, tinha que pagar iptu que aumentou quase 20%.
sei que tenho muita sorte de ter uma casa e uma família. muito mesmo. algumas pessoas só tem (como a coleguinha da minha filha disse) “a casa do meu papai, deus.” (aí aí aí). estamos enfrentando questões gravíssimas—mudanças climáticas que literalmente estão matando as pessoas (enchentes, dengue) e uma violência que não acaba nunca (feminicídios aumentaram em 2022), por exemplo.
o que tem me ajudado com esses pequenos desafios pessoais (sem fim) e um mundo tão assustador e cruel, é contemplar minha morte.
eu tenho uma prática de aceitação de morte. diariamente eu reflito sobre minha morte. penso:
“vou morrer, estou morrendo, todos que eu amo vão morrer, agora estou vivo, como eu quero viver?”
procuro fazer isso todos os dias para alinhar o que eu faço no dia com minhas prioridades. pensando nas dificuldades da vida—um estado corrupto, homis que matam mulheres pq querem, um planeta cada dia mais hostil por causa de ação humana, etc etc—acho super relevante e necessário. *tem que pensar em morte com consistência e com empatia pq pesquisas mostram que no curto prazo uma reflexão mais focada em morte nos faz ser mais preconceituosos e punitivos
estabaleci minhas prioridades no início do ano e elas continuam sendo: escrever, amar, não deixar dívida p/ minha filha, terminar a reforma da minha casa, seja uma artista/escritora, contribuir para a abolição do estado carcerário.
tá rolando. pela primeira vez na minha vida, estou escrevendo todos os dias! além disso, estou mandando meus contos para publicação, explorando como criar mais arte, como brincar e experimentar. estou tentando gerar mais renda: escrevo biografias e newsletters (em inglês) e fiz meu site (se conhece executivas gringas, passa meu contato) para conseguir mais uma ou duas freelas—não muitas, pq minha prioridade não é viajar ou adquirir bens. é arte e amar. ainda estou procurando como contribuir para abolicão (no brasil, poucas pessoas/poucos movimentos querem abolir prisões/policia totalmente), mas tudo tá caminhando bem.
nunca me senti tão triste sobre o mundo e nunca me senti tão focado e equilibrada como pessoa.
não quero morrer. tenho pavor de morrer de uma forma dolorosa e/ou de deixar minha filha. quero tanto criar ela e ver quem ela vai ser. quero muito mais tempo com jhonny—demoramos quase uma vida para encontrar um ao outro e nossa felicidade é tão grande. quero mais tempo para escrever e fazer arte. para saber o que eu sou capaz de sentir, fazer, criar.
e…..é só pensando em morte que esses medos e desejos ficam nos devidos lugares. só aceitando minha morte, como ela for, que eu consigo priorizar o que importa numa pandemia interminável e num mundo com tanto sofrimento e dor.
beijooooos,
m