olá pessoal,
estou me sentindo sombria e insegura. depois de refletir bastante sobre meus sentimentos, eu identifiquei alguns motivos:
enviei alguns contos para publicação e até agora só tenho recebido rejeições
minha filha optou por ficar com o pai biológico dela e não comigo um dia
(ou seja, estou questionando minha capacidade como escritora e mãe)
estou insegura sobre como ganhar dinheiro (vcs já ouviram dizer sobre chatgpt? é a inteligência artificial que vai substituir todos os escritores)
alguém pediu nosso site de até a lua. com a esperança de um trabalho de grande escala, corremos para criar e….deu em nada
estou com alguns desequilíbrios hormonais chamados envelhecimento e menstruação
briguei com o amor da minha vida.
temos um relacionamento incrível. somos um casal super feliz. e brigamos. a briga esse dia foi importante e dolorosa e em conjunto com o resto (vê a lista acima), tomou outra proporção.
eu pedi um tempo sozinha (algo necessário para eu ficar bem na vida) e ele foi pintar na rua (algo necessário pra ele ficar bem na vida).
ele decidiu pintar uma porta de aço, tudo que restou de um prédio demolido (onde com certeza vai um cubo commercial ou condomínio de alto padrão). enquanto ele pintava, uma mulher saiu e o agradeceu pela arte. ela disse que tem se sentido muito triste desde que eles demoliram a casa ao lado de sua casa. o barulho, a perda, a antecipação de todo o processo (sujo, barulhento) de construir um novo prédio no lugar. ela disse que a arte dele ia ajudar nesse momento difícil.
foi marcante a fala dela. afirmou o poder do graffiti. ele pintou aquela porta sem permissão—com tinta que ele comprou, correndo risco de ser abordado pela polícia e sem nenhuma garantia que a arte vai permanecer por muito tempo—e isso foi um retorno precioso. também confirmou o quanto a verticalização da cidade descaracteriza bairros e magoa as pessoas. e quanto a demolição sem fim tem um impacto na psique da gente.
*observação: foi sorte que ele conseguiu pintar no domingo. que não choveu. quem mora em sp sabe o quanta chuva que temos recebido esses últimos meses. quanto o anormal é cada vez mais nossa realidade (“a frequência de chuvas triplicou numa década”).
como casal, conseguimos navegar a briga. continuei me sentindo sombria e insegura, mas também amparada e amada. sou muita sortuda. muitas pessoas estão brigando/sofrendo, sem apoio e amor.
li um artigo na segunda (em inglês) que adolescentes estão sofrendo. reportando indices maiores de depressão e transtorno alimentar.
esses dia alguém veio na loja comprar tinta com jhonny. falou que tinha sumido por um tempo por causa de ansiedade e depressão. tá tomando remédios. nunca tinha passado por aquilo.
muitos de nós estamos passando para aquilo que nunca passamos.
tenho uma tendência a nostalgia—amo o passado, sou formada em história— mas eu sei que o passado não foi melhor—não em educação, não em medicina, não em política, não para meu marido negro, não para meus amigues queer, não para mim (mulher branca neurodivergente com “gênio forte”).
no entanto, o presente não é só rosas (ditado em inglês) e o futuro é assustador (pandemias recorrentes, colapsos econômicos, mais acesso as armas, mudanças climáticas e mais e mais e mais).
como sempre na vida adulta, existem dores, problemas e soluções insatisfatórias, parciais.
e também existe arte. nas dificuldades e tristezas, por favor, não esqueça da arte!!! faça, crie, aprecei!
(pinacoteca contemporânea abriu esse mês e está grátis até abril 2023. É mais uma construção maldita nessa cidade, mas pelo menos não foi para um oxxo ou condo de alto padrão)
bjssss,
m
p.s nosso site é legal. vai dar uma olhada!
I definitely connect with your feelings of vulnerability and heaviness, if I can use that word for sombria. I think that there are infinite reasons to have these feelings in this, our world, today, on every level. It is beautiful to see the photo of you and Jhonny and experience a bit of your creativity in the cata-vento and all your writings and art --- the graffiti that unites you and us in a profound way when so much else is superficial. T hank you for the reflection...