Todos os dias eu olho no espelho e digo: Vou morrer. Estou morrendo. Agora, estou viva. As pessoas que eu amo estão vivas. Aproveite.
Isso faz parte da minha prática continua de aceitação de morte. Aceitar morte é sempre necessário e cada dia mais. A razão para aceitar morte não é resignação, ao contrário, é pela ânsia de viver plenamente.
Reconheço que está difícil viver com alegria num mundo onde estamos morrendo por causa de guerra, tiroteios em massa, pandemias globais e desigualdade social. Onde comportamento humano está transformando o planeta num lugar inabitável para nossa própria espécie e focamos mais nas ações de celebridades do que nas estruturas que protegem/enriquecem os maiores abusadores.
Mas a vida sempre foi difícil, sempre será e essa é nossa única vida. Minha meta é apenas viver hoje com momentos de alegria. Não todos os momentos, não negando as dores e dificuldades, mas sim, com alguns momentos bons. Recuso passar um dia sem alegria. Assim, se eu morrer repentinamente ou depois de muitos anos de sofrimento, se eu morrer de doença ou de violência ou de falta de ar e água, se eu aceitar ou não minha morte e/ou as mortes dos outros, pelo menos eu tive alegria hoje.
Já escrevi sobre isso (AQUI), mas sem o foco na morte. Sem entender o quanto mais eu abraço minha mortalidade, mais eu sou capaz de viver minhas alegrias.
Hoje quero destacar as coisas que me trazem felicidade. Um elemento importante de sentir alegria é reconhecer que estou feliz. Sem o reconhecimento, a alegria passa sem eu perceber. A vida é curta demais para perder qualquer momento bom.
Vamos saborear nossas delicias deliciosas, seja de comida ou de música ou de natureza ou de amor. Seja o que for. Anotei algumas coisa simples, sinta se a vontade de colocar outros exemplos nos comentários.
Não sou nada natureba mas mesmo eu, a pessoa menos conectada com a natureza que eu conheço, adoro o pôr do sol. Ainda temos isso, uns dias mais impactado pela poluição do que outros, e custa nada parar e olhar.
Cada vez que eu ando na cidade eu sofro. A condominificação de São Paulo me causa uma angustia enorme. Eu tento ignorar essa tristeza profunda, racionalizo que o ciclo histórico sempre foi esse, mas mesmo assim, eu odeio. Raras vezes eu consigo enxergar além da tristeza e capturo algo que em breve não existirá mais.
Eu amo chá. Há uma infusão (não tecnicamente chá) de rooibos de uma loja @mori.chazeria que é fenomenal! e muito caro. então fico com hikari quentão quando quero beber algo sem cafeína e o sabor me dá um prazer é enorme.
Comida processada faz mal. Embalagens descartáveis. Muito sódio. Nada saudável. E amo. Garytos mais do que qualquer outro salgado. Prazer além da medida.
Mato todas as plantas em casa. Como eu disse, nada natureba. Fracasso total. Mas tenho uma apreciação para a importância e o poder do mundo natural. Em particular, amo erythyrina speciosa. Florece de junho a setembro (falta pouco) e é uma fonte garantida de alegria para mim.
Pensei em incluir filmes e música e arte que me animam e me trazem muito felicidade, mas vou guardar para outro momento.
Em fim…acho que eu nunca vou estar pronto para morrer mas pelo menos consigo aproveitar da pouca coisa boa num mundo muito cruel.