olá friends,
estou participando num curso sobre o processo criativo de escrita, e como estabelecer uma prática sustentável e consistente. tem várias sugestões interessantes/uteis. uma das sugestões é identificar um elemento ou técnica que admira em algo publicado, e tentar replicar com seu escrito. imitar, não plagiar. quando eu vi os bolsominions em brasília pensei nisso—quanto eles queriam plagiar, passo a passo, o que rolou nos eua. os comentários nas mídias e a indignação brasileira é bem semelhante também. algumas falas até parecem plagiadas.
o fato do brasil ter uma história de ditaduras, faz o ataque ter uma ressonância emocional diferente, mas não consigo ter toda a raiva e choque que as pessoas estão expressando online. já li esse “conto”, palavra por palavra, em janeiro 2021. e de tudo que aconteceu no brasil nos últimos 6 anos, isso não é o mais chocante. golpe, assassinato de Marielle, eleição de bozo, mortes desnecessários (a recusa em comprar vacinas), a flexibilização de armas, a militarização das igrejas, etc etc etc.
se é isso que motiva as pessoas a não aceitarem o fascismo, ok, mas duvido que vai mudar muito coisa.
como mudar o cenário atual? com o sistema carcerário? vejo vários políticos, como boulos, postando “sem anistia, sem perdão: povo na rua, fascistas e golpistas na cadeia.”
aí aí aí.
me identifico como abolicionista. acredito que os sistemas atuais de vigilância, policiamento, julgamento e encarceramento devem ser abolidos. para todos e todas e todes.
eu não apoio pedidos pela prisão do bolsonaro e os bolsominions que atacaram o governo em brasília. isso quer dizer que acho tranquilo, legal, divertido o que rolou? que eu sou fã dessas crenças e ações? não. sem exceção, tudo que bozo representa, fala, fez/faz é repugnante. nunca apoiei, nunca apoiarei.
mas achar que ele deve ser responsabilizado não quer dizer que eu acredito em punição.
mariame kaba diz:
“defender a prisão de alguém não é abolicionista. confundir satisfação emocional com justiça também não é abolicionista.”
e
“um sistema que nunca aborda o porquê por trás de um dano nunca realmente contém o dano em si.”1
bozo na prisão vira mártir. não reduz indices de fascismo. não muda o discurso dele de violência, e quanto o ódio anima as pessoas. lula foi preso e agora é presidente. bom para quem é de PT/esquerda mas mostra o quanto uma passagem na prisão não impede sua relevância para quem tem apoia.
é muito mais fácil punir. é totalmente ineficaz também. bozo e os demais na cadeia não deixa ninguém mais seguro. cadeias não servem ninguém, em nenhuma situação.
eliminar prisões e policias não é extinguir consequências. as pessoas devem ser “accountable” (uma palavra que não existe em português e significa mais que responsável).
bozo accountable é considerar o contexto social, econômico e politico em que os danos foram cometidos. é ampliar as consequências e faze-las serem pertinentes. é restituição, barreiras eficazes ao poder (para não repetir os danos), e mais. não é vingança. não é recorrer um sistema baseado na extração dos quem tem menos para o beneficio dos quem tem mais, criado para controle populacional e para a proteção de bens. esse sistema nunca proporciona justiça, pq não foi feito para justiça.
não tenho as respostas, e abolicionistas dizem isso: não existe uma solução—existe inúmeros. o que falta é a imaginação de sonhar em liberdade dentro de um sistema de opressão. sonho num mundo que não substitui responsabilidade real por punição.
nesse momento de uma esquerda punitiva, só queria dizer isso. vamos parar de plagiar o que já aconteceu, tem acontecido para séculos. vamos inovar e eliminar o que não serve (extração, genocídio, repressão—capitalismo) e imaginar um mundo muito melhor do que temos hoje, com ou sem bozo.
bjooos,
m
p133 e 24. Kaba, Mariame. We Do This 'Til We Free Us: Abolitionist Organizing and Transforming Justice. Chicago: Haymarket Books, 2021.