olá povo,
me incomodo que eu falo português com sotaque. acredito que é meu sotaque que desqualifica: 1) minha inteligência (uma vez briguei com um professor do mackenzie, e o principal argumento dele era que o português não é minha primeira língua) e 2) meu pertencimento a brasil (não importa que nasci aqui, que toda a minha família materna é daqui, que moro aqui há 12 anos). mas sabe o que não me incomoda? meus erros de português. pelo menos com gênero. inglês foi minha primeira língua então para mim nenhum objeto tem gênero. mesa, ceu, trêm, pia, genitália, comida. absolutamente nada. para mim linguagem neutra e inclusiva é bem mais fácil.
minha filha tem o nome da minha tia materna. nunca a conheci, ela morreu na adolescência, quase uma década antes de eu nascer. mesmo assim, eu sabia que ela era uma pessoa muito importante para minha mãe. na constituição da minha família materna. por isso eu escolhi o nome.
minha vô morreu meses antes da minha filha nascer, mas ela não queria que eu desse esse nome. achava que ia dar azar. por isso (em parte), minha mãe deu um apelido a minha filha. desde que o dia que ela nasceu ela sempre foi a lolo.
o ano passado ela decidiu que não quer ser mais a lolo. quer ser chamada pelo o nome na certidão de nascimento. na escola, as crianças já chamavam ela desse nome e a transição foi simples para sua pediatra e dentista. mas de família, sou a única que conseguiu fazer essa mudança. com os outros ela tolera essa dificuldade e diz tudo bem. se eu errar, chamar ela de lolo, ela surta. e respeito a raiva dela. pq é enlouquecedor quando o outro não aceita como nos nós definimos.
sou brasileira. ninguém aceita. ela não é lolo. ninguém aceita. sou ateia/vegana. muitas pessoas não aceitam isso. se isso é difícil para o geral, imagina quando uma pessoa quer assumir uma identidade mais polemica…
pq não aceitamos como o outro se identifica? é pq nos não fomos aceitos em alguma particularidade? é pq não aceitamos o que nós não entendemos? é pq temos medo de que essa liberdade de auto identificação representa?
estou passando por um momento difícil—com uma infestação leve de barata e cupim em casa, moderadamente deprimida1, severamente sem grana (rsrsrs), ficando mais velha cada dia, ansiosa sobre as consequências de ai (inteligência artificial) e acumulando uma rejeição atrás da outra dos meus contos literários—e nisso percebi a necessidade de criar a confiança na minha essência. mesmo mal, não sucedida, com rugas, obsoleto e rejeitada, tenho que descobrir como confiar na minha visão/na crença que eu importo. como confiar em mim. mesmo recebendo rejeições e sendo substituído pela tecnologia.
meu marido tem isso como grafiteiro. minha filha tem isso em exigir o nome dela. cada pessoa lgbtqia+ tem isso em existir do jeito que é.
quero muito fortalecer minha confiança interna. não sei exatamente como, mas quanto mais eu me aceito e acredito em mim, mas eu consigo fazer para o outro.
como qualquer taurina fabulosa, sonho em ter uma vida de luxo sem trabalhar muito. (ai vai ajudar com o não trabalhar muito mas não com os luxos) e como uma quase bibliotecária (fiz um ano de um mestrado em biblioteconomia nos eua), adoro indicar coisas pra vcs - mesmo aquilo eu não consigo pagar/comprar ;)
indicações:
limpeza de pele: na clínica derma vegan, tem uma “promoção". no mês da mulher (março 2023), comprando 3 limpezas de pele, ganha uma drenagem E uma massagem. fiquei tão empolgada que perguntei quanto custa uma limpeza. R$350 a R$450. cada uma. momentos assim, gostaria ser rica. rsrsrs.
chocolate: vcs sabem que eu amooooo esse chocolate (se não sabia, agora vc sabe) e esse ovo brisa deve ser divino.
filme: crip camp (netflix). li um post no ig dizendo que deficiência é a única coisa que qualquer pessoa - independente de raça, etnia, classe, religião, partido política gênero, sexualidade - poderia desenvolver em qualquer momento de vida. esse documentário é inspirador e informativo. e possivelmente vai mudar como vc pensar sobre deficiência e inclusão.
exercício: sou muito grata que parou de chover tantooooo em são paulo. estou conseguindo caminhar 10.000 passos por dia (confirmação cientifica para caminhar tanto). é uma parte importante de como eu estou tratando minha depressão.
chá: no primeiro de março, jhonny e eu celebramos 3 anos de muito amor e construção. temos um relacionamento muito especial. ele comprou rooibos choco & spices para mim. prova de quanto ele me conhece e ama. o atendimento dessa loja no WhatsApp é péssimo - tanto comigo quanto com o Jhonny então acredito eu que não é racismo e sim desagradabilidade e incompetência. mas…o chá é sublimo.
bjoooos
m
uso a palavra deprimida com cautela! tenho toc e odeio quando as pessoas auto denominam isso de uma forma irreverente e divorciada da atual doença. escrevi deprimida pq minha amiga médica me deu o teste que médicos utilizam para analisar depressão e ansiedade e estou “moderamente deprimida". não sinto necessidade de medicação e desenvolvemos um plano de tratamento que inclui exercícios de respiração, 10.000 passos por dia, e terapia.
Querida Melissa,
Que reflexão!!!
Concordo com suas palavras de sabedória....."quanto mais eu me aceito e acredito em mim, mais eu consigo fazer para o outro".....para mim, acho mais eu consigo acolher o outro/outra em sua diversidade. Estou muito grata por todos os recursos que vc passa...livros, chocolate, films, etc.
te amo, e vc é a pessoa mais fantástica q eu ja conheci na minha vida